Avaliámos as artes de pesca, as zonas e as épocas com maior risco de capturas acessórias de cetáceos no golfo da Biscaia

No âmbito do projeto CetAMBICion, estudámos o impacto das diferentes artes de pesca e identificámos as zonas e as épocas com maior risco de captura acessória de cetáceos no Golfo da Biscaia e na sub-região da Costa Ibérica. Para tal, desenvolvemos uma abordagem analítica comum para os três países participantes no projeto, Espanha, França e... Ler mais »

No âmbito do projeto CetAMBICion, estudámos o impacto das diferentes artes de pesca e identificámos as zonas e as épocas com maior risco de captura acessória de cetáceos no Golfo da Biscaia e na sub-região da Costa Ibérica.

Para tal, desenvolvemos uma abordagem analítica comum para os três países participantes no projeto, Espanha, França e Portugal, considerando as características específicas das frotas de pesca de cada território e as diferentes espécies de cetáceos.

No total, foram avaliadas 24 artes de pesca diferentes. Destas, as redes fixas, como os tresmalhos e as redes de emalhar, foram identificadas pelos três países como as artes com maior risco de capturas acessórias para os cetáceos odontocetos mais pequenos, como o golfinho comum e a toninha, mas também para os maiores, como a orca e a baleia-piloto.

A pesca com redes de cerco com retenida foi classificada como de risco elevado-moderado para os cetáceos odontocetos mais pequenos. Os arrastões pelágicos, que só operam em França, e os arrastões de fundo, que operam em França e Espanha, foram também classificados como de risco elevado-moderado.

Além disso, as redes envolventes-arrastantes de praia, cuja utilização é mais comum em Portugal, estão também no grupo de alto risco.

Por outro lado, as dragas, as redes de arrasto, os palangres e as nassas e armadilhas são geralmente considerados de baixo risco, embora possam ocorrer ocasionalmente interações entre os cetáceos e estas artes de pesca.

ZONAS DE ALTO RISCO

Para identificar as zonas de alto risco de capturas acessórias de cetáceos, os dados sobre a distribuição espacial das espécies de cetáceos foram cruzados com as zonas onde são utilizadas as artes de pesca de maior risco. Para o efeito, foi efetuada uma análise do esforço de pesca com base nos dados do sistema de localização dos navios por satélite (VMS), dos diários de bordo e das notas de venda.

Os dados do dispositivo de localização por satélite dos navios franceses, portugueses e espanhóis foram sobrepostos à distribuição sazonal de nove espécies de cetáceos, considerando 18 combinações de artes e espécies para cada estação. Embora este método tenha certas limitações, uma vez que apenas os navios com mais de 15 metros de comprimento são obrigados a utilizar este dispositivo, a análise permitiu identificar zonas de alto risco, que variam para cada combinação de espécies, tipo de arte e estação, tendo sido detectadas zonas de risco comuns para algumas espécies. Estas zonas situam-se no bordo da plataforma continental ou do talude, nas zonas costeiras do golfo da Biscaia e no noroeste de Espanha. A disponibilidade destas informações contribuirá para uma gestão eficaz do problema, uma vez que permite a aplicação de medidas adequadas nas zonas com maior risco de capturas acessórias. As medidas possíveis incluem a instalação sazonal de dispositivos acústicos de dissuasão durante as atividades de pesca, a aplicação da regra de deslocação ou, se necessário, encerramentos espácio-temporais de pequenas zonas delimitadas com um risco elevado de capturas acessórias (em vez de encerramentos generalizados, que são geralmente aplicados quando não é possível determinar exatamente onde e quando ocorrem as capturas acessórias).

A análise dos diários de bordo e das notas de venda revela as zonas de risco de capturas acidentais apenas a uma escala espacial maior, mas permite utilizar os dados relativos ao esforço de pesca dos navios mais pequenos, não registados pelos dispositivos de satélite. Os resultados indicam que, na demarcação marítima espanhola do Atlântico Norte, as zonas com maior risco de capturas acessórias são as Rias Baixas, as zonas em torno do desfiladeiro de Avilés, o desfiladeiro de Llanes e o cabo de Peñas. Na subdivisão continental das águas marinhas portuguesas, o risco de captura acessória é mais generalizado e muito variável entre épocas, sendo mais elevado nas zonas do canhão do Porto, do canhão Setúbal-Lisboa, do canhão de Aveiro, do canhão da Nazaré, do cabo do Carvoeiro e da zona do Algarve.

Os resultados obtidos neste exercício de análise conjunta, utilizando dados dos três países da sub-região, são de grande utilidade para o avanço do objetivo de minimização e redução das capturas acessórias de cetáceos na sub-região do Golfo da Biscaia e Costa Ibérica.

O PROJECTO

O projeto CetAMBICion, coordenado pelo Instituto de Investigações Marinhas (IIM-CSIC), que conta com a participação de 15 parceiros de Espanha, França e Portugal, tem como objetivo reforçar a colaboração e o trabalho científico entre os três países para avaliar e reduzir as capturas acidentais de cetáceos na sub-região do golfo da Biscaia e da Costa Ibérica, em estreita colaboração com o setor das pescas.

A iniciativa faz parte do chamado DG ENV/MSFD 2020 (Diretiva-Quadro Estratégia Marinha) da Comissão Europeia, e os objetivos estão alinhados com a Diretiva de Habitats e a Política Comum das Pescas.